sexta-feira, dezembro 30, 2005

Armando Barrios

(...) Viene la pintura de Armando Barrios del abstractismo, que ha debido de ser para él una purificadora renuncia, una oscura noche, una obediencia a la oscuridad, para que algo, la luz, se hiciera. Y así tienen sus figuras la fragancia de una flor que se abre, que se despierta temblando dura y fría con su tiempo consigo. La geometría se unió a la oscuridad de las entrañas de la tierra tan visitada por el sueño, y se hizo cristalina arquitectura, como si se hubiera despertado una luz yacente en esas profundidades, un yacimiento de luz apresada que al despertarse se libera. Y se hace arquitectura por la presencia de la figura, de las figuras que han despertado también y que del despertar tienen las alas. Porque todo despertar es anunciación.
Despierta la luz al espacio prisionero o vacío, a la hundida presencia, a la palabra, pájaro de la verdad. Es la ascensión a la verdad, hacia ella, de lo que no llegó a ser realidad y la atraviesa. Sin esos yacimientos de aprisionadas o hundidas realidades, el arte, especialmente el de la Pintura, no existiría, como no existiría poesía, si al hombre algo de su alma no se le hundiera o se le hubiera ocultado. Ni pensamiento si la realidad fuera total y la visión la poseyera por completo.

No es la realidad visible el objeto, ni el motor de la pintura, sino la oculta o no aparecida aún. Mas, al salvarla, la pintura la pasa por la realidad, la forma según ella, aceptando la ley de la presencia y la figura; como ley, no como ilusión. Pues, que ninguna obra de humana creación puede ir en busca de la realidad, sino por algo que a la realidad le falte: verdad, unidad, intimidad o más bien, adentramiento. Por la verdad que no tiene, como si en la realidad hubiera ante la humana mirada un exceso que hay que reducir y una inercia que hay que despertar.

Algunas figuras de la pintura de Barrios parecen haberse desprendido de la cristalina cueva. Son las más pobres: el color, si de color por sí solo puede hablarse, es sombra de luz, pura luz cuajada. Es el color en que la luz se desnuda y a la vez se envuelve para no herir, son ellas mismas arquitectura, ellas mismas espacio y cuerpo. Por ello no tienen, ni necesitan atmósfera; no irradian ese polvo de lo que se desrealiza, indicio de perdición de la realidad irradiante; esa sospecha y esa congoja que al corazón del hombre le acomete ante la realidad cuanto más esplendoroso, más fosforescente se muestra. Pues, que lo más amenazador de la realidad no es que se escape, sino que se desrealiza en ésa su radiación perenne. Ha debido de ser sentido muy agudamente, antes de que nada de ella se supiera. Y el hombre al sentirlo así, ha acudido a la realidad para reducirla, para deshacerla también; a veces, para encontrar bajo ella y más allá de ella, algo así como el ser y la verdad. Y no ha podido realizarse este suceso, sufrirse esta pasión tan sólo en el pensamiento. La Pintura que lo anuncia, ha participado en él. Y así, en lugar de nacer de una mirada que posee o pretende poseer lo que ve, ha nacido de una mirada que se desposee, es decir, de un acto de desprendimiento del propio yo que renuncia a su presa. Una mirada que transforma las cosas en seres, las figuras en presencias y verdades. Un pintor español, Zurbarán, el anunciador de todo un futuro de mirar y pintar lo realizó dejando como abandonadas a la divina voluntad todo lo que pintaba; su pintura misma. Y la pintura de Armando Barrios desde tan lejos -lugar, tiempo- aparece por todo, pero más visiblemente en estas figuras desprendidas de cristalina cueva, en esas figuras, puras presencias, a él afiliadas.
María Zambrano, "Verdad y Ser en la Pintura de Armando Barrios".
Roma, 1960.
El Nacional. Caracas, 1960.
Revista Arthropos. Madrid, 1987.






Visite o site dedicado ao pintor venezuelano Armando Barrios

Na dança do poder VII – Encenações da inocência

E as crianças cantam para o candidato..., como o coro de uma tragédia grega:

Vamos lá, quem é o primeiro que se engana e dança mal ...

Recordo-me de uma fórmula genial e atroz de Hegel : «Só as pedras são inocentes». Um dia destes, ainda veremos os candidatos à presidência em peregrinação pelas obras de construção civil que assolam o país, discursando para os calhaus.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Há um ano, na fonte do Horácio, era assim... sem tirar nem pôr:

Uma carta de Natal

Viva Horácio,

resolvi escrever um pequeno conto de Natal. Sem uma razão maior do que a falta dela, aqui vai:

Os convivas chegaram e o burburinho é muito. Na noite de Natal há que se estar e ser-se feliz. Na noite de Natal tem de se ser sim-pático mesmo que o páthos dos convivas ou familiares nos seja desconhecido. Há que perguntar e ser “perguntado”: então como vai a vida? E em breves instantes, por entre apertos de mão e uns quantos beijinhos no hall de entrada, responde-se sorrindo que tudo corre bem.
Estou bem. Não há maior artifício que este para um diálogo de ocasião. Não há controvérsia possível quando se diz que se está bem. E poucos são aqueles que insistem na mesma questão: Mas está tudo mesmo bem? Aí, um aceno com a cabeça ou um simples sim costuma ser suficiente.
Avançamos todos para a sala de estar, por entre graçolas e gargalhadas como se fossemos íntimos, celebrando o vazio da comunicação.
No entretanto do jantar, por entre os pinhões e avelãs, fala-se mais um pouco. Repetem-se as perguntas e respostas do hall de entrada, mas desta vez com um pouco mais de entoação: Então como estás? (acompanhado com uma palmadinha nas costas) Estou bem. E tu? Também estou bem. Tenho trabalhado muito, estas férias vieram mesmo a calhar. E fica-se a olhar para o fundo da sala à procura de uma pergunta interessante para se fazer, mas não ocorre nada.
Então ficamos ali apenas a sorrir. Mas há sempre alguém que começa a falar dos temas da “actualidade”: do Bush à Casa Pia, passando pela árvore de Natal em Belém, tudo é motivo de conversa para entreter o tempo. E enquanto um fala, os outros esperam irrequietos, como putos no Natal, pela graçola para encenar a gargalhada final. Nisto alguém anuncia que o jantar vai ser servido e é o alívio. A partir de agora já temos um motivo para estarmos calados. É que não se deve falar com a boca cheia. Não sei se sabes.
Já sentados, fala-se um pouco do vinho, elogia-se o bacalhau e recorda-se o último Natal: Lembras-te do primo Ernesto que no último Natal adormeceu debaixo da árvore? E do David que tropeçou no cadeirão ao passar a garrafa de vinho ao Tio João?
Durante o jantar os temas da “actualidade” aparecem, novamente, do nada: do Santana ao Sócrates, passando pelo Portas é tudo a mesma cena musical: o jingle bell do vazio. Daí até às prendas é um instante, interrompido apenas por uns quantos berros dos miúdos já enfadados com a interminável espera.
A hora de abrir as prendas é o momento crucial da noite de Natal. Independentemente de gostarmos ou não do que recebemos, retribuímos sempre com um sorriso ou com um par de beijinhos. Dá-se uns gritinhos histéricos para encenar a surpresa. Fita-se por momentos a prenda para mostrarmos o nosso apreço e voltamos a olhar para quem nos oferece, como que a dizer gostei muito.
No final da noite contemplam-se as prendas dos outros dizendo que são giras e há ainda quem teime em dissertar sobre as tristezas e tragédias da humanidade. Segundos depois estamos todos no hall de entrada:
Então está tudo bem!
Sim. Está tudo bem.

Um grande beijinho Horácio. Espero por noticias tuas.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

de E-Clair , "Oficina"

"As pessoas escrevem mal porque ficam assustadas com as palavras", diz Ademar Ferreira dos Santos.
Eu pergunto: o que é escrever mal? E, sim, as palavras assustam. E como! E... como? Há o desespero da disléxica, do rapaz de 13 anos a quem foi dito que "houvesse" e "ouve-se" são coisas bem diferentes, da camponesa que nunca aprendeu a ler, da poeta local que suspeita ser nula mas sonha com a reverência, do adulto que nunca sentiu baque nenhum com palavra alguma, do vendedor que se esconde atrás de frases-feitas e comprovadas, de quem ama e não sabe dizê-lo, de quem não ama porque nunca soube dizê-lo, de quem não escreve porque não lê e de quem não sabe pensar de onde lhe vem o desespero.
E há ainda quem se sinta afogad@ n'Elas, mas elas não são mar, ou são?


de E-Clair Abre-Surdo

terça-feira, dezembro 20, 2005

“Politica de imigração”


Entidade patronal exploradora de mão-de-obra barata

- Tem visto?

Operário angolano da construção civil e que paga impostos

- Quem?

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Na dança do poder VI - sobre a batuta de jornalistas medíocres

  • Nietzsche dizia que a mudança de gosto geral é mais importante que a das opiniões. As opiniões com todas as provas, refutações e toda a mascara intelectual não passam de sintomas do gosto que muda e não são, com certeza, ao contrário do que tantas vezes se imagina, causas dessas mudanças.
  • Parece-me evidente, nos dias de hoje, a ditadura da opinião pública fabricada pelos mass media. Levantam suspeitas, fabricam intrigas. Sem qualquer ética, ofendem; sem o mínimo de pudor sarcasticamente riem-se dos convidados. Medíocres jornalistas mandatários de senhores obscuros deturpam, inventam, manipulam. Eles decidem previamente aquilo que deve ser ouvido do que deve ser desprezado como indigno de ser audível. Hoje já não há peneiras. A ética sob os escombros da sísmica mediocridade que se alastra, clama para ser salva.
  • “Eles são uns peneirentos, têm mania da superioridade!”, assim fala a mediocridade domesticada.

Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
— Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!

— Espera — disse o sábio. Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.

— Três peneiras? Que queres dizer?

— Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?

— Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exactamente se é verdade.

— A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?

Envergonhado, o homem respondeu:
— Devo confessar que não.

— A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?

— Útil? Na verdade, não.

— Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.

  • Não penso que a maldade humana e a baixeza, o que de mais perverso habita em nós, devessem porventura serem mascaradas. Acho mesmo, mais honesto o chamar de “filho da p” do que ataviarmos a mesma expressão com argumentos capciosos que lembram uma pseudologia das mais baratas. Um dos gurus de opinião, do gosto geral, sob o simulacro de uma pseudociência coxa (artificio seu, usual) pretendei com um requinte assustador e ardiloso, num dos seus artigos, admoestarmos dos malefícios de um dos candidatos à presidência. Sempre defendi que os gosto se discutem e nunca gostei da estética da unanimidade, tampouco de acordos frouxos e de aparência. Mas haja alguma higiene no pensamento, na discussão, nas sacudiduras, porque a ofensa gratuita só pode mesmo regojizar quem a escreve. Ah, que ufania deve ter tido este triste homem, ao escrever estas coisas!

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Na dança do poder V. Vanidades

Na valsa provedor/ouvidor o resultado foi um indigente zero a zero em que nós ficamos a perder. Tão vago vacuu que nem sequer meteu água.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Imaginacion (Use)



Imaginacion - Roel Caboverde Yacer

Vou assobiando pra frente


Bola de meia, bola de gude


Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Carácter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

Milton Nascimento e Fernando Brant

E vou assobiando..., não para cima, mas pra frente!
Depois de Com pé no Forró, Toninho Horta lança Duets em parceria com o flautista italiano Nicola Stilo.

1. Naima (Coltrane)
2. Meu Canario (Toninho Horta)
3. In A Sentimental Mood (Ellington)
4. Bibi's Mood (Nicola Stilo)
5. Bons Amigos (Toninho Horta)
6. My One and Only Love (Wood / Mellin)
7. Illusion (Nicola Stilo)
8. Vento (Toninho Horta)
9. My Ideal (Robin / Whiting / Chase)
10. Very Early (Evans)

Adventure Music, 2005

Enquanto esperamos que chegue por cá, podemos ouvir um pouco aqui.

Um tímido regresso com Toninho


Toninho Horta está entre os três brasileiros que integram antologia americana "Progressions – 100 Years of Jazz" ao lado de 74 instrumentistas do jazz. Laurindo Almeida e João Gilberto também representam o Brasil.

06/12/2005 - Ailton Magioli , Estado de Minas, 29/11/2005

Como um dos três brasileiros – os outros dois são Laurindo Almeida, morto em 1995, e João Gilberto – selecionados para integrar a antologia "Progressões – 100 anos da Guitarra do Jazz" (Progressions – 100 Years of Jazz), da Columbia/Legacy, recém-lançada nos Estados Unidos, com a relação dos guitarristas mais influentes do mundo do jazz, Toninho Horta, de 56 anos, não oculta o orgulho da distinção.

"Mesmo que não haja algo que possa ser tocado fisicamente, é um prêmio, o reconhecimento do trabalho que chegou ao ponto de ser considerado do nível de outros 74 guitarristas que estão no projeto. Claro que nenhum se compara a outro, cada um tem estilo diferente e é exatamente pela personalidade diferenciada que se fez a seleção", afirma o guitarrista mineiro, recém-nominado ao Grammy Latino pelo cd "Com o Pé no Forró", da Minas Records.

Com a mala já sendo preparada para a viagem a Bangcoc, na Tailândia, onde vai se apresentar no mês que vem, acompanhado de Robertinho Silva (bateria/percussão) e Bororó (baixo), em evento dedicado à memória das vítimas da tsunami do ano passado, Toninho Horta anuncia para o ano que vem o esperado lançamento do Livrão da Música Brasileira, em que vai reunir cerca de 600 composições com letras, cifras e verbetes, quando também pretende reeditar o Seminário Brasileiro da Música Instrumental, realizado pela primeira vez em 1986, agora dentro da programação do Festival de Inverno de Ouro Preto.

Segundo o guitarrista, desde as primeiras gravações na América, ainda na década de 70, sua música começou a atrair o meio jazzístico, via Milton Nascimento, Airto Moreira e Flora Purim. Norman Connors, George Duke, Michael Franks e Manhattan Transfer estão entre os artistas com os quais Toninho tocou ou teve sua música gravada nos Estados Unidos.

"Todo o pessoal com o qual convivi, de 1988 a 1998, quando morei em Nova York, foi imprescindível para manter meu nome na roda porque, mesmo que nunca tenha entrado na Downbeat, com os melhores do ano, e que tenha gravado somente três discos pela Verve/Polygram. Consegui me manter no meio", diz, orgulhoso Toninho Horta, cuja mais recente incursão no setor está sendo a produção de um disco do também guitarrista George Benson, cujas gravações, iniciadas este ano, no Brasil, deverão ser concluídas no ano que vem, nos Estados Unidos. "Optei por continuar fazendo a música que eu sempre acreditei e não entrar na onda da Polygram, que queria que eu fizesse um trabalho para os audiófilos de jazz".

Para o guitarrista, o mais surpreendente em "Progressões – 100 anos da Guitarra do Jazz" está no livreto, do qual consta a biografia de cada um dos artistas selecionados. "O primeiro nome citado na minha biografia é o de Pat Metheny. Achei estranho e fui ler o texto que diz que o Pat teve uma grande influência na minha carreira – ele escreveu a contracapa de "Diamondland", de 1988, que teve uma grande repercussão nos Estados Unidos, onde esteve entre os 12 mais tocados do jazz contemporâneo, da Bilboard, e, a seguir, em Moonstone, gravou comigo Pedra da lua, em dueto – mas, por outro lado, o texto reconhece também que eu exerci uma profunda influência na maneira de tocar e de compor de Pat Metheny. Quer dizer, foi a produção, formada por Steve Berkowitz, Michael Brooks, Bob Irwin, Seth Rothstein, Richard Seidel e o também guitarrista John Scofield, que reconheceu isto".

Como há controvérsias nesta história, Toninho diz que quando as pessoas perguntam quem influenciou quem, gosta de lembrar apenas que ele é mais velho do que Pat Metheny. "Mas na verdade eu ouvi muito o Pat, assimilei muita coisa dele, de tocar as melodias com clareza. Só não perdi a espontaneidade. Nunca deixei que a técnica e o estudo do instrumento se sobrepusessem à minha criatividade musical. Tanto que acho que foi isto que solidificou o meu trabalho de guitarrista", reconhece.


continua Clube de Jazz

Tirando as controvérsias..., recordo na fonte:

Sempre gostei de Toninho Horta. E não me perguntes porquê. Não sei. Gosto da sua humanidade. Não sei se me entendes. Gosto do calor da sua voz. Gosto da textura e da harmonia dos seus acordes. Da sua simplicidade e beleza. Dá-me para ouvir em silêncio, para não acrescentar o pensamento. Para escutar e sorrir, apenas. Hoje...vou caminhando ao som de Durango Kid. Para mais tarde voltar...quem sabe.

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