sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Na Volta Que o Mundo Dá (oiça aqui)

Mônica Salmaso

Composição: Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro

Um dia eu senti um desejo profundo
De me aventurar nesse mundo
Pra ver onde o mundo vai dar

Saí do meu canto na beira do rio
E fui prum convés de navio
Seguindo pros rumos do mar


Pisei muito porto de língua estrangeira
Amei muita moça solteira
Fiz muita cantiga por lá

Varei cordilheira, geleira e deserto
O mundo pra mim ficou perto
E a terra parou de rodar


Com o tempo
Foi dando uma coisa em meu peito
Um aperto difícil da gente explicar

Saudade, não sei bem de quê
Tristeza, não sei bem por que
Vontade até sem querer de chorar


Angústia de não se entender
Um tédio que a gente nem crê
Anseio de tudo esquecer e voltar

Juntei os meus troços num saco de pano
Telegrafei pro meu mano
Dizendo que ia chegar


Agora aprendi por que o mundo dá volta
Quanto mais a gente se solta
Mais fica no mesmo lugar

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

a Luz de Moacyr

Só recentemente conheci Moacyr Luz e fiquei logo rendido, encantado, com a grandeza e arte deste músico brasileiro carioca - Vitória da Ilusão é uma maravilha, uma pérola de beleza, de bom gosto, e as letras..., em parceria com Aldir BLanc e com Paulo César Pinheiro: ah, que maravilha!

Moacyr Luz (1988)
Independente
Vitória da Ilusão (1995)
Caju Music
Mandingueiro (1998)
Dabliú
Na Galeria (2001)
Lua Discos
Samba da Cidade (2003)
Lua Discos
A Sedução Carioca do
Poeta Brasileiro (2005)
Violão e Voz (2005)
Deckdisc



Deixo aqui uma intro-dução a Moacyr Luz:

Violonista, compositor, produtor e intérprete, o carioca Moacyr da Luz Silva (n. 05 de abril de 1958) é um dos representantes mais significativos do samba dos últimos 15 anos.

Com a infância musicalmente influenciada por seu avô clarinetista e músico da Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Moacyr iniciou-se ao violão aos 15 anos de idade, logo depois da morte de seu pai. Sempre em companhia do guitarrista e violonista Hélio Delmiro, seu primeiro "orientador" no instrumento, Moacyr circulou pelos bastidores da MPB setentista, dos ensaios de Elizeth Cardoso aos shows de Elis Regina.

Firmando-se como violonista, Moacyr Luz vê, em 1979, sua primeira composição ser gravada. A cantora Lana Bittencourt, "A Internacional", grava "Eu me descubro", e batiza a iniciante carreira do compositor flamenguista.

Cinco anos depois, conhece o letrista carioca Aldir Blanc, que se tornaria seu parceiro mais constante. Inauguram o casamento artístico com a produção de uma série de sambas e canções. Entre dezembro de 1987 e janeiro de 88, Moacyr grava no Rio de Janeiro nove composições assinadas com Blanc e que seriam a matéria-prima de seu primeiro álbum, homônimo, lançado pelo selo Acre.

... a ler em Gafieiras

(no mesmo site, indispensável ler a entrevista a Moacyr - Devoto dos bons temperos)

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Gafieiras - Naná, de onde veio o seu interesse em trabalhar com crianças?

Naná - Eu fiz o primeiro disco, chamado Africadeus, lá em Paris. Aí um dia me convidaram pra ir num programa de televisão, num desses programas com crianças. Ia um doutor, uma autoridade da psiquiatria infantil da França. E me convidaram por causa dos sons que eu tirava. Eles iam falar sobre o sonho. E cheguei no estúdio do programa começar e as crianças já estavam lá sentadas esperando. Simplesmente toquei o berimbau. "Oh, mas o que é isso?" E o doutor, que estava observando, ficou louco! E como já estava lutando com o governo pra abrir um projeto da não-técnica, da não-musicoterapia, e queria uma pessoa livre, ele me convidou. A idéia dele era fantástica! "Mas eu não falo francês!", eu disse. "Não precisa. Quero é o que você faz com a música." Aí ele me explicou um pouco e foi assim... Fui e comecei a entender. Eu, não o músico, mas a música. E a música é a mais imediata das artes, porque mexe com os sentimentos, vai do silêncio ao grito. Uma criança para ficar alegre ou se acalmar ou toma um comprimido, uma injeção, ou ouve uma música. Havia eu, com música, e um pintor, que trabalhava com cerâmica... E foi aí que fui me agarrar mais ainda às minhas coisas, as coisas do Brasil. Falar da natureza, mostrar como eu fazia instrumentos com coisas que vinham de árvores. Aprendi isso com as crianças e também a me centralizar mais. Mostrei a elas, por meio da música, a respiração, o ouvir, a ficar em silêncio.

Gafieiras – E por quanto tempo manteve esse trabalho?

Naná - Eu fiquei dois anos e meio trabalhando nessa clínica.

Gafieiras – E depois no Brasil, não?

Naná – Aqui eu fiz muito pouco. Tenho um projeto itinerante chamado ABC Musical, que é um absurdo que não seja feito em todo o país. Cada estado nosso tem uma orquestra que é do estado ou do município; tem um teatro, que é do estado ou do município; e ainda tem as escolas públicas. É para fazer em todas as cidades do Brasil. Coloquei juntas três suítes de músicas folclóricas brasileiras. Cada canção da suíte vem de uma região. E o maestro Gil Jardim, que trabalhou comigo, abraçou essa idéia pra arranjar tudo pra a sinfônica. Numa cidade, visito as escolas públicas com crianças de sete a dez anos, que é uma idade ótima pra lidar com essas coisas. Aí começo a selecioná-las e fico com 700. Foi assim em São Paulo. Passei o pente fino pra ficar com 100, 120 crianças que cantavam. Não quero um coral. Se quisesse ia diretamente num coral. Mas é para a criança aprender sobre o Brasil por meio do folclore. Tem a música do amanhecer: [ canta ] "É de manhã, vou buscar minha fulô / A barra do dia vem, e o galo cocorocô / É de manhã, vou buscar minha fulô”. É da Bahia isso. “Iaiá vem ver, vem ver Iaiá / Iaiá vem ver a sereia lá no mar / Ó Iaiá vem, ver.” Então, quando mostro essas músicas para a criança, eu digo qual é sua origem; se tiver uma dança, eu mostro como é. Aí tem música da manhã, do dia, da tarde e da noite. No folclore tem toda essa coisa. E de todas regiões do Brasil. A criança aprende. “Você é de onde?” "Eu sou do Maranhão." “Ah, sei uma música da sua terra.” Fui criança e na escola havia música, música orfeônica. Tinha que saber cantar os hinos todos, mas havia as canções também. [ canta ] "Vou me embora, vou me embora, prenda minha / Tenho muito que fazer...” Eu lá em Pernambuco canto uma música do Sul. Era uma coisa do Villa-Lobos, que na época colocava uma banda com 200 músicos e 40 mil crianças. Ele queria provar para o Getúlio Vargas que a música era mais forte que as armas.

para ler na integra: entrevista a Naná, O bolo está na mesa de Dafne Sampaio, no site Gafieiras


adenda: para quem não conhecia o site Gafieiras fica a dica. É dos melhores sites de música brasileira.

No trilho de Naná

O percussionista Naná Vasconcelos lança “Trilhas”, com composições próprias pata balé, teatro e cinema. Trabalho do artista pernambucano é registrado em documentário de Paschoal Samoura.

Naná Vasconcelos, de 62 anos, só se deu conta de que a voz é o elemento mais forte do cd Trilhas depois que o álbum ficou pronto. Coletânea dos principais trabalhos do percussionista e compositor pemambucano para cinema, teatro e dança, o disco chega ao mercado no momento em que o artista comemora 50 anos de carreira, ainda que ele renegue a importância da data. Essa história de cinquentenário é horrível. Parece que estou prestes a me aposentar, quando, na verdade, eu me sinto com 26 anos.


Paralelamente, o percussionista protagoniza o documentário Diário de Naná, do diretor paulistano Paschoal Samoura, de 38 anos. Premiado pela Associação Brasileira de Documentaristas (ABD) no festival É Tudo Verdade, em São Paulo, acaba de ser selecionado para a mostra competitiva do Festival de Amsterdã, na Holanda. Na seqüência, o filme será exibido no Festival de Havana, em Cuba. "O som de Naná beira o divino, o sagrado", derrama-se Paschoal. O músico fez a trilha sonora do primeiro filme dele, o documentário Confidências do Rio das Mortes (1998), rodado em Minas Gerais.

Enquanto não saem em disco as canções de Diário de Nana, criadas enquanto o filme era rodado entre Salvador e o Recôncavo Baiano, os fãs do pernambucano podem se deliciar com Trilhas. No cd, destaca-se o trabalho de Naná para o longa-metragem Quase dois irmãos, de Lúcia Murat, e o balé Corpos de luz, da Cia. Dança Vida, de Ribeirão Preto. No repertório, há também Incelença, peça composta para a Cia. Balé de Rua, de Uberlândia, inspirada nos cantos de velório, de domínio popular.

Engraçado. Quando as pessoas me procuram para fazer uma trilha, quase sempre querem que eu use a voz, conta Nana. Basicamente, ele lança mão da harmonia e do berirnbau para compor. Não sou cantor, nem gosto de pensar nisso; reage, admitindo que usa o recurso quando não tem alternativa. "Dois irmãos", por exemplo, eu queria que fosse cantada por Milton Nascimento, revela. O cantor só não gravou o tema do filme de Lúcia Murat porque tinha compromissos na época. Eu também não sou letrista, ressalta Naná. De repente, ele se vê fazendo coisas a que não costuma se dedicar - como letras de música e cantar no cd "Trilhas".

Segundo Naná, seu timbre gutural, a voz não afinada (mas não desafinada) e semitonada despertam interesse não apenas no Brasil. Pat Metheny é um dos que gostam; afirma, citando o guitarrista americano como um dos fãs de sua música original. Ao compor uma trilha sonora, Naná Vasconcelos pensa, obrigatoriamente, no potencial do aspecto visual, que, em sua opinião, é muito grande.

Já em meus shows, gosto de contar histórias por meio do som. Componho pensando no cenário, esclarece, lembrando que a influência vem do mestre Heitor Villa-Lobos, cujo Trenzinho caipira é exemplo do gênero musical que ele gosta de trabalhar. Villa-Lobos me mostrou esse lado da composição, revela.

Milton Nascimento, com quem Naná trabalhou, também é autor de forte potencial musical, na opinião do percussionista. Quando ele mostrou Pai grande, pensei imediatamente na história de um navio negreiro. Pedi e ele deixou que eu colocasse esse navio descendo O Rio Amazonas, diz, relembrando, poeticamente, a época em que integrava a banda do líder do Clube da Esquina A estréia de Naná em trilhas sonoras ocorreu no cinema em 1970, com "Pindorama" de Arnaldo Jabor.

Uma década depois, Glauber Rocha, com quem ele morou em Nova York, incluiu a canção Amazonas no filme "Idade da Pedra". Na dança, os convites vêm principalmente de companhias contemporâneas do exterior, como o Hamburg Ballet, da Alemanha Na França, chegou a fazer trilhas para telenovelas. Entre os filmes que musicou, estão "Procura-se Susan desesperadamente", de Susan Seidelman, "Daubailó", de Jim Jarmusch, e "Amazonas", de Mika Kaurismãki.

Gosto de trabalhar com diretores e coreógrafos para a gente poder respirar juntos; afirma o percussionista. Ele explica que, assim, pode encontrar o momento do silêncio que sua música sabe explorar tão bem Apesar do uso desse recurso em praticamente todo o disco, Naná acredita que o primeiro instrumento seja, realmente, a voz. Mas o melhor é o corpo, que gosto de utilizar ao vivo, não em gravações. O corpo é bonito de ver. Essa é uma expe. riência para ser vivida.

Em Diário de Naná, do diretor Paschoal Samora, o percussionista e compositor busca o sagrado. Nunca tinha estado lá Sugeri que o filme fosse no Recôncavo Baiano, porque ali estão as grandes figuras do afro, que nunca desceram para Salvador diz. Além das cenas da capital, há tomadas em Santo Amaro, Cachoeira e São Félix. Na verdade, trata-se do diário de um viajante, em que o percussionista traz à tona a música e a cultura da região. Naná é estrangeiro o suficiente para fazer essa incursão no Recôncavo Baiano'; diz Paschoal Samora, lembrando que, além de pemambucano de origem, o artista morou muito tempo no exterior.

A idéia do filme é mapear os sons que só se produzem lá, diz o diretor. Além de Dona Edith do Prato, Virgínia Rodrigues e o grupo Meninos do Bagunçaço, o Diário de Nana traz à cena as mães-de-santo Baiacu Luiza, que morreu dias depois das filmagens, e Filhinha Nossa intenção era de que algo se transformasse em Naná e não apenas que ele fizesse uma viagem. A idéia era um filme de descoberta, acrescenta Paschoal.

De acordo com ele, o documentário promove a viagem de Naná para dentro de si, de suas raízes e histórias, incluindo as raízes africanas. Além de tocar, o percussionista aparece pesquisando sons da cultura e da natureza - do mar à feira e ao trem. Diário de Naná deve chegar aos cinemas no ano que vem, para ser exibido na Tv e lançado em dvd.

Clube de Jazz, Jacky Lepage

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Vou contar-vos um pequeno segredo:


Os segredos não se contam.

Vou contar-vos outro pequeno segredo:


Ainda que houvesse segredo algum passível de ser contado, e não digas nada a ninguém, não seria um segredo mas uma mentira.

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