quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O som nosso de cada dia

Por entre abruptapontamentos, falsas questões e outras tantas questões falsas, o babelismo continua a reinar. Escreve-se que a contradição é uma fraqueza moral. Para mim, a contradição é uma franqueza moral e intelectual, quando assumida e quando estamos cônscios dela. Mas deixando isso para lá, vou mazé procurar a inspiração das musas:























E é assim: Hermeto regressa com a sua "patroa" Aline em Chimarrão com Rapadura

"CM – E como é esse trabalho com a Aline?

Hermeto – O nome da criança é Chimarrão com Rapadura. É um DVD e um CD lindo. Tudo independente. Vai ser lançado agora, no próximo mês. Não é um som mais novo que um ou que outro. É um som todo. É música universal. Tem muito canto. Mas é o cantar verdadeiro. O que nós chamamos de fala. Estou falando, estou cantando."

Vale a pena visitar o site de Hermeto e Aline Moreno, para além da informação dá para ouvir um trechinho do álbum.
A entrevista dada recentemente por Hermeto, à Agência Carta Maior, também vale a pena ler, tem umas passagens curiosas e polémicas:



"CM – E qual é a diferença entre inovar e mudar as coisas de lugar?

Hermeto – Muita gente confunde inovar com idade, com números. Muita gente pensa que, quando um menino pega um violão e sai cantando, o povo acha que aquilo é coisa nova. Tem muita gente de 18 anos tocando coisas velhas e quadradas. Esse pessoal que toca chorinho, músicas regionais, MPB, começa a tocar que nem velho, com cara de velho. Quem nasce hoje precisa ser bem informado. O cara nasce e escuta Pixinguinha. A música é bonita e tem aquela vestimenta quadrada de acordes. Se o cara nasce hoje e não falarem para ele que isso é música antiga, é a mesma coisa que ele ver um prédio antigo sem saber que é antigo. Não é que o velho seja ruim. Mas o novo tem nascido tão velho. A música universal para nascer consciente precisa de confraternização. Se eu fosse cientista e descobrisse a cura do câncer, eu sairia gritando na rua para os meus colegas médicos para curarmos o mundo logo. Mas as pessoas gostam de guardar os segredos e carregá-los para tirar proveito daquilo. A música universal não quer um melhor do que outro. Queremos que cada um faça assim como Deus fez o mundo: juntar as coisas diferentes, para somar. Se for igual, não soma nada.

CM – Tom Zé diz que não existe mais nada de novo para ser criado na música. Vivemos, segundo ele, a era do plagiocombinador. Tudo que nasce de mais novo é combinação de coisas que já existem. O senhor concorda?

Hermeto – Em primeiro lugar, Tom Zé não é músico. Ele tinha é de morrer logo (risos). Não é nada pessoal. É uma coisa construtiva. Agora, a culpa é da imprensa que não tem repórteres especializados. Ele é um grande falante. Mas ele não é músico. Como é que a imprensa considera esse cara músico? Essa história é conversa de quem não cria. É o que você perguntou antes que eu costumo falar. Só se mudam as coisas de lugar. São pessoas que já não têm mente mais. Como é que Deus ia colocar um ser humano na Terra que não pudesse criar. Mas o Tom Zé, como um cara conhecido, tem que respeitar a criatividade dos outros. Ele que fale: eu, Tom Zé, sou assim. Cuidado, meu filho. É melhor tirar o Tom e deixar só Zé. Morre uma árvore e nasce outra. Existe renovação em tudo. Sempre serão outras coisas. Não andamos à procura da criação. No fim, a criação é que nos procura."

domingo, fevereiro 12, 2006

Responsabilidade

Poderemos ser livres sem termos que responder pelos nossos actos?

Abruptapontamentos 3.

« (…) poderíamos interrogar-nos sobre a incapacidade da democracia para forjar uma linguagem especifica. (…) jamais a dissociação da realidade e do nome da democracia foi levada tão longe…(…) Atacando então a democracia com as suas próprias armas»

Nicole Loraux


Tenho recebido alguns emails de pessoas amigas a comentarem os últimos acontecimentos: os cartoons de Setembro, mais os três acrescentados, pelo que consta, pelos Imãs dinamarqueses; as manifestações de protesto de ambos os lados, e claro, a questão da liberdade de expressão. O discurso, o logos, este transformar um certo silêncio em fala, este articular de palavras para formar uma frase, por uma necessidade, como diria Kant, de razão, ie, demanda de sentido, de significação, – nem sempre é claro e fácil. E origina por vezes, devido à falta de engenho de quem escreve ou à dificuldade auditiva de quem lê, interpretações incorrectas.
Nunca fui dado a silogismos e para falar verdade sempre me parecerem um tanto ou quanto infantis. Defendo que a liberdade é um espaço de pluralidade, que a pluralidade implica responsabilidade. O “e depois?” e “e depois? É proibido?” é um apelo à irresponsabilidade, é um apelo não à liberdade mas à libertinagem. Acho sinceramente que o e depois? foi um expressão infeliz de Pacheco Pereira. [ler Abruptapontamentos 2.]
O que me parece essencial, isso sim, é que não há pluralidade sem responsabilidade. E não há liberdade sem pluralidade. Ou antes, ontologicamente: é a liberdade que deixa ver, aparecer, a pluralidade humana.
Tornamo-nos responsáveis quando assumimos os nossos actos e respondemos por eles, como indivíduos no seio de uma sociedade com diferenças e semelhanças. A liberdade humana tem um nome, chama-se ética.

O caso dos cartoons e dos acontecimentos subjacentes e consequentes, para clarificar um pouco:

1. mostra por um lado, um povo desesperado e manipulado, um povo sem futuro, um povo asfixiado na sua própria miséria. A esperança de que o presente terá um futuro é a esperança de todo os ser humano. O desespero é a ausência de futuro.

2. Pedir desculpas pelos cartoons não faz sentido nenhum. Concordo com todos aqueles que se revoltam contra isso. O pejo de não os publicar é uma hipocrisia.

3. Instalou-se um pandemónio de histerismo circense nos media. Agora fazem-se concursos de cartoons lá e cá.

4. Sempre achei perigosa a expressão, em jeito de justificação para outros fins, “mas a razão está do nosso lado!”. São nestes momentos que devemos ter mais cuidado e atenção com os nossos actos. É por isso que argumentos falaciosos e perniciosos como o “e depois? É proibido?” me revoltam.

O que me assusta em tudo isto é o apelo e as justificações para a guerra, MAIS: a guerra ser apresentada, com argumentos capciosos, como inevitável.

Quanto ao choque das civilizações, toda a história da humanidade foi feita de choques e se calhar ainda bem que eles existem. Se não os queremos ver… um dia, mais cedo ou mais tarde, iremos chocar com eles! Então diremos: "Eles existem!"

Um abraço de Domingo
Horácio

sábado, fevereiro 11, 2006

Para nós que transformamos um certo silêncio em fala

Liberdade de expressão não é dizermos tudo e depois perguntarmos "e depois?". Liberdade de expressão não fazermos tudo aquilo que nos der na real gana e perguntar "e depois? É proibido?". Liberdade de expressão, como toda a liberdade, exige responsabilidade, este responder, este comprometer com o outro (pela consequência dos nossos actos) e com nós mesmos (para não ficarmos desprovidos de sensibilidade moral).
As três peneiras de Sócrates (verdade, bondade e utilidade) caíram em desuso. Hoje é apenas uma fábula que se conta para as crianças adormecerem. Uma fábula de animais que transformam um certo silêncio em fala.

Assim Habito
Horácio

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

ainda acerca do post anterior, resolvi recordar na Fonte um texto de Olavo de Carvalho, a propósito ou a despropósito: porque não vale tudo, mesmo quando, como é o caso, temos razão para não pedirmos desculpa:


Viver sem culpas
de Olavo de Carvalho

“É isso que eu procurei a vida inteira: alguém que me dissesse que é possível viver sem culpas.” (Marilena Chauí, Diálogo com Bento Prado Jr., Folha de S. Paulo, 13 de março de 1999.)

“Viver sem culpas” é um objetivo que toda a cultura progressista oferece à humanidade. O sentimento de culpa é condenado como um resíduo de antigas tradições repressivas, que deve ser abandonado às portas de uma nova era de felicidade e realização pessoal. Esse é hoje um ponto de acordo entre adeptos das correntes mais opostas. Sacramentada pelo consenso, a condenação da culpa tem tantas legitimações diversas, que na verdade já não precisa de nenhuma delas e vive perfeitamente bem como uma auto-evidência que prescinde de argumentos.
Mas o que é, propriamente, viver sem culpas? Sobretudo, qual a nuança precisa que tem em vista aquele que nos propõe esse objetivo?
Só há três sentidos em que um ser humano pode ser dito isento de culpas. A primeira hipótese é a da inocência, a efetiva inocência de Adão no Paraíso, do Bom Selvagem ou da infância num filme da Disney. A Bíblia e Rousseau, com muita precaução, remeteram essa hipótese a um passado mítico. Santo Agostinho confessava-se perverso desde o berço, e o pouco que ainda pudesse restar de credibilidade na imagem da inocência infantil foi impiedosamente desmoralizado pelo dr. Freud.
O desejo de “viver sem culpas” não teria o menor atrativo para as almas se apelasse a uma idéia desacreditada. Não pode ser portanto a inocência primordial o que o moderno progressismo tem em mente quando nos convida a “viver sem culpas”. A inocência completa e absoluta é um mito, uma qualidade divina que ninguém pode realizar neste mundo.
Um segundo sentido em que se pode “viver sem culpas” é o da inocência relativa, trabalhosa e periclitante em que o homem consegue se manter quando se abstém conscientemente de fazer o mal e, se o faz, procura remediá-lo com devotada boa-fé. É uma norma de perfeição razoável ao alcance de muitos seres humanos.
Mas não pode ser esse o sentido de “viver sem culpas”, pois a possibilidade de um homem corrigir o mal que fez repousa inteiramente no sentimento de culpa que o acomete quando peca; e para refrear-se de fazer novos males ele tem de conceber em imaginação a culpa que sentiria se os fizesse.
Nesse sentido, a inocência relativa não é de maneira alguma viver sem culpas: é, precisamente, valorizar o sentimento de culpa como uma bússola que nos guia para longe do mal.
Mas “viver sem culpas” pode significar ainda uma terceira coisa: pode significar a abolição pura e simples da idéia de culpa. Neste caso, faça o indivíduo o que fizer, seus atos não serão examinados sob a categoria da culpa, do arrependimento, da pena e da reparação. Não importando a natureza desses atos nem as conseqüências que deles decorram para terceiros, serão sempre enfocados de modo a evitar o constrangimento de um acerto de contas moral. Poderão ser explicados sociologicamente, psicologicamente, pragmaticamente, ser avaliados em termos de vantagem e desvantagem, descritos em termos de desejo, gratificação e frustração. Só não poderão ser julgados.
Este último sentido é, com toda a evidência, o único em que é possível, na prática, “viver sem culpas”. É ele, evidentemente, que os ideólogos modernos têm em vista quando oferecem à humanidade esse ideal de futuro.
Mas, no presente, já há muitas pessoas que vivem sem culpas, que não se submetem ao exame da consciência moral, que não se sentem constrangidas quando suas ações produzem danos para terceiros. Chamam-se sociopatas. Não são doentes mentais, nem retardados. São indivíduos inteligentes, capazes, não raro dotados de certa genialidade e impressionante desenvoltura social, e apenas desprovidos de sensibilidade moral para sentir culpa pelos seus atos. Entre eles encontram-se assaltantes, traficantes, chefes de gangues – e todos os líderes de movimentos totalitários, sem exceção. Quem deseje ser como eles sente seu coração bater forte, cheio de esperança, quando ouve alguém anunciar que é possível viver sem culpas.
Nossa civilização começou quando Cristo ordenou ao apóstolo: “Toma tua cruz e segue-me.” Dois milênios depois, o ideal que se anuncia é jogar a cruz fora, pouco importando em cima de quem ela caia, e seguir correndo o carro da História, pouco importando quem ele venha a esmagar pelo caminho.

Abruptapontamentos 2 - O "e depois?" de Pacheco Pereira

Ontem abruptamente (um apontamento abrupto) resolvi escrever em jeito de nota um comentário acerca da liberdade de expressão, e da frase, do slogan que por aí prolifera: "Liberdade absoluta de expressão".

Hoje Fernando Bonito escreve, e bem, no Abre-Surdo de forma incisiva e perspicaz acerca de um artigo de Pacheco Pereira publicado no jornal Público e no seu blog Abrupto:

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Hoje li no "Abrupto" do Pacheco Pereira um texto sobre a polémica dos cartoons, em que ele aproveita para reforçar a idéia de que estamos todos numa guerra que ele julga ser entre a CIVILIZAÇÃO e a BARBÁRIE (quem são elas?). Interessou-me esta idéia:

"... não quero saber se houve intenção de ofender (e depois?), de fazer propaganda anti-islão (e depois?), de ser simplista na representação do "martírio" (e depois?), de rebaixar Maomé (e depois?) de associar o islão ao terrorismo (e depois? É proibido?). É acaso proibido representar Deus-pai como um velho lúbrico como faz Vilhena e Crumb, e Cristo como um alegre imbecil como fizeram os Monty Python? É que se não é para defender este direito de se exprimir no limite das nossas crenças, a liberdade não serve para nada. ".........

que me sugere o seguinte pensamento:

olhando para este mundo de 6.000 milhões de pessoas, parece-me perceptível que em reacção (à toda a acção, corresponde uma!), haveria os que se ririam e rebolariam com o humor dos cartoons (os "civilizados"?!), os que fariam uma reflexão séria e profunda sobre a mensagem implícita (os "civilizados pensadores"), os que não reagiriam ("civilizados passivos"?!), os que se indignariam silenciosamente ("serão civilizados"?!) e os que se indignariam com violência [a personificação da "barbárie"; os do outro lado da "linha ténue"...]. Será que eles (do outro lado da barricada) também "não querem saber"? será que também pensam: "e depois?".....pois é, estamos em guerra! vale tudo, não?

de Fernando Bonito

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A própria expressão "e depois?" é um burgess(o)ismo intelectual arrepiante. E mais ainda, acrescenta Pacheco Pereira:"e depois? É proibido?", isto é de uma infantilidade. E a ingenuidade não é para aqui chamada porque as intenções são claras. É nestas passagens que se vê o sentido que a palavra liberdade tem para alguns dos nossos gurus da praça. A liberdade é o horizonte que dá a ver, que deixa ser e aparecer, (a epifania) o outro; é o espaço comum da pluralidade humana, onde se estabelece e se discute as nossas diferenças.
O "e depois?" de Pacheco Pereira é um apelo à inconsequência dos nossos actos, das nossas palavras, um outro modo de desresponsabilização do tipo “estou-me bem a lixar!” .
É arrepiante ver os argumentos simplistas, populares e capciosos de Pacheco Pereira. Esta falácia perniciosa que Pacheco Pereira utiliza, a do argumento do “e depois? É proibido?” é um apelo à estupidez humana, não à liberdade com o horizonte comum da pluralidade humana. A liberdade não é o desprendimento quanto ao poder ou não fazer. Ela não se define apenas como um contraponto ao proibido. Na realidade ela não se define ( não se limita) por essência.
A liberdade é, antes de tudo isso, a fonte, o onde de onde emerge e jorra a pluralidade. E neste sentido não impede, nem restringe. Mas é neste espaço, nesta abertura, em que a pluralidade se manifesta, em que o outro, aparece, dá-se a ver como o outro. E aqui sim, começa a nossa liberdade, a ética!

Horácio

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Abruptapontamentos:

Dizer que a liberdade de expressão é ab-soluta é uma contradição, um oximoro, para não dizer uma palermice. A liberdade de expressão funda-se na pluralidade humana, esta é a sua essência (aquilo que algo é). O ab-soluto é a dissolução das diferenças, dos vários solutos.

A liberdade de expressão é o espaço da pluralidade humana.

A liberdade é antes de mais uma abertura, é aquilo que não impede. Não impede porque não restringe. Não restringe porque está intrinsecamente livre de todas as restrições. Não é um ab-soluto que dissolve todas as diferencias, mas é a origem, aquilo a partir do qual e pelo qual algo é aquilo que é e como é. A liberdade é a fonte, o onde de onde emerge e jorra a pluralidade. A liberdade de expressão é este horizonte onde outro se dá a ver como outro. E é aqui que começa a nossa liberdade.

Daniel Mille indispensável:

Mille was born in October 1958, under the sign of a ternary Libra: his mother was a dancer, his father a drummer, and the surroundings were in Grenoble. He waited eleven years before turning to the accordion and two years later he dropped everything; carting around the image of the Tour de France caravan in the playground at school wasn’t for him…

Of course, it was love at first sight that gave him itchy fingers again, after a Claude Nougaro concert with Richard Galliano: the revelation of a reachable Utopia, where invention was possible again, a simple squeeze away. A friendship was born, and with it, loyalty. Daniel Mille moved to Paris in 1985, earning some cash in the subway corridors, and he returned to Grenoble from time to time. Richard Galliano made him an offer: would he play with him at a concert given by singer Barbara? Nothing was the same after that… “I was behind the curtains, but the feeling of the stage, the tension in the audience and the presence of Barbara cut to the bone… It was right then, immediately, that I knew I’d never look back. No more return-tickets.” In 1990 Daniel studied jazz at the CIM School, but “there, at the time, with my accordion, I was a Martian.”

In 1993 came another milestone. Back in Paris, Pierre Barouh called Galliano to ask him how he could contact the little guy he’d liked so much. He wanted to make a record with him! “When we went into the studio, I had no idea what we were going to record…” Yet right from the start, Sur les quais made an impression with its brimming sensuality. The cast of musicians was a sign of things to come: Jean-Christophe Maillard (an inseparable companion), Laurent de Wilde, Sylvain Luc, Richard Bona… the radio stations loved it. Two years later came recognition: Les heures tranquilles received the Best Hope Django Award. Then came Le Funambule in 1999. Each time, Daniel Mille tightened the circle, and the intention.

For his fourth opus, Entre chien et loup, Daniel was crystal-clear in his mind: “I wanted to make an accordionist’s record, not an accordion album, and pay special attention to the compositions. Composing is like a second trade, to me. When people listen to one of my pieces, like those of Daniel Goyone, I like the writing to be recognised.” In that respect, Piazzola and Toninho Horta have nourished him as much as jazz or the dancehalls of the Rue de Lappe. The feeling of silence, the exactness of the musical time, is another of his aces in causing emotion to ooze from his “box of shivers”. “Sometimes virtuosity is a fig-leaf hiding the lack of emotion. I can’t allow myself virtuosity, so…” Using five notes where others are tempted to play twenty obliges you to be intense, and tell a story with simple words.
In this fourth work, Daniel Mille has opted for the quartet format, with, here and there, an additional colour: strings, piano, or clarinets and saxophone.

The eleven compositions (“Les errances d’une valse” is a single suite, sequenced in four movements) are all as many narratives. “Les Minots” is about childhood mischief, a lullaby in 5/4 where the accordion allows itself the luxury of not stating the theme; in “Aube”, it’s a working-draft that takes precedence: a trio of piano, guitar and accordina, the little brother of the accordion that reminds you of the harmonica (“And my admiration for Toots Thielemans,” adds Daniel Mille.) “Thema de Maella” is a composition by Argentinian pianist Lalo Zanelli, whom Daniel Mille heard on Paris radio six or seven years ago. Daniel’s brother Christian, who used to busk with him in Saint Tropez, but now lives in Grenoble, plays the violin. There’s no improvisation on Danse 7, just a statement of the melody: “There’s no need for it, Goyone’s tunes are so well-cut!” The “Errances d’une valse” suite, (in 11/4, just try dancing to it…) was written as a journey to the fringes of Europe. As for “Novembre”, “it was the moment when I started thinking about the album.”It’s also a moment of solitude on the accordion, an ode to silence. “It was conceived and written for solo accordion.”

For Entre chien et loup, Daniel simply let himself be carried by the light he’s so fond of every day: “It’s a moment when I feel particularly available, quite open, and I often work with the windows open.” There’s no mystery about B, the note of music, which is explored in all its harmonies. Daniel Mille uses the accordion merely as a rhythmic accompaniment, and the Jew’s harp imparts a special texture to the overall sound. For “Les Embruns” Mille was thinking about the seascape in Brittany, where the land ends… the piece was scored completely. An extremity of the land in jazz? Jean-Christophe Maillard’s composition “Cinéma” was a piece lying in a drawer; on it, Daniel plays an accordina solo that recalls his admiration for the conversations of Bill Evans and Toots Thielemans. “We felt marvellous in that melody over that pulse: Minino Garay set up a beautiful atmosphere,” says Mille. “B Interlude” comes as a counterpoint to “Les Embruns” an instant of unbridled improvisation that’s an invitation to bring the session to a conclusion while all are still present in the studio in Pernes-les-Fontaines. There’s nothing more natural than for the accordion to adopt a feel that’s more “roots”, more traditional. Letting yourself go, dancing, laughing, drinking… it’s when the daylight is Entre chien et loup, the moment in the day when night is drawing near, and opening its arms to you.

in Emarcy

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Desde que o céu não lhe fuja!

Justamente quando Tales observava os movimentos dos corpos celestes acima dele, os seus pés escorregaram e caiu num poço. Conta Platão, no Teeteto, que uma bela e graciosa serva trácia, quando viu Tales cair, disse uma piada a propósito: na ânsia de conhecer as coisas do céu, deixou escapar o que tinha em frente, debaixo dos pés.

Platão acrescentou em tom sisudo que “esta graça serve para todos os que se dedicam à filosofia.” (Platão, Teeteto). Naquela situação, com certeza que não me escangalharia a rir, pois Tales deve-se ter aleijado; mas se calhar diria: desde que não te fuja o céu, caro Tales, tudo bem!

E assim regresso timidamente a este mundo virtual onde se trocam confissões e se discutem ideias; enquanto o mundo lá fora parece quer precipitar-se para uma guerra civil. Pois toda a guerra, é uma guerra civil.

Assim Habito
Horácio

a ler:

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