sexta-feira, janeiro 26, 2007

tem pão velho?

Pensei escrever qualquer coisa acerca de Emmanuel Marinho compositor de poemas, actor, cancioneiro de palavras coloridas, sonoras e doces, mas não gaSTAS. Mas não, resolvi apenas transcrever de um jacto a letra do seu poema musicado Genocíndio, penso que o neologismo fala por si. Como ele diz: a poesia tem de ler o mundo, tem de perturbar a ordem publica e protestar nas praças pela paz. A voz é do saudoso Itamar Assumpção, oiça aqui.



GENOCÍNDIO

tem pão velho?

não, criança
tem o pão que o diabo amassou
tem sangue de índios nas ruas
e quando é noite
a lua geme aflita
por seus filhos mortos.


tem pão velho?

não, criança
temos comida farta em nossas mesas
abençoada de toalhas de linho, talheres
temos mulheres servis, geladeiras
automóveis, fogão
mas não temos pão.

tem pão velho?

não, criança
temos asfalto, água encanada
super-mercados, edifícios
temos pátria, pinga, prisões
armas e ofícios
mas não temos pão.

tem pão velho?

não, criança
tem sua fome travestida de trapos
nas calçadas
que tragam seus pezinhos
de anjo faminto e frágil
pedindo pão velho pela vida
temos luzes sem alma pelas avenidas
temos índias suicidas
mas não temos pão.

tem pão velho?

não, criança
temos mísseis, satélites
computadores, radares
temos canhões, navios, usinas nucleares
mas não temos pão.

tem pão velho?

não, criança
tem o pão que o diabo amassou
tem sangue de índios nas ruas
e quando é noite
a lua geme aflita
por seus filhos mortos.

tem pão velho?

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