segunda-feira, outubro 17, 2005

Contorcionismo

Sou demasiado ateu para não acreditar em Deus.

7 Comments:

Blogger M. said...

Ah, agora percebo a razão do desaparecimento do seu blog! Rapto, então! Ao que chegámos! Andei dias e dias à procura de "A Fonte" e, como não o encontrava, desisti. E, quando hoje li a mensagem deixada no "Fotoescrita", não percebi logo que se tratava do mesmo Horácio. Ainda bem que podemos de novo deliciar-nos por estas bandas. E obrigada pela mensagem deixada no meu cantinho e do S.
Um abraço.
M

6:54 da tarde  
Blogger Horácio said...

O fotoescrita é um cantinho que gosto muito de habitar.

deixo um abraço M, até breve

Horácio

6:21 da tarde  
Blogger Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

Uma vez ouvi o Saramago dizer que não temia a morte porque era ateu, e assim não tinha que se preocupar com castigos divinos (falava sem ironia). Pensei que ele seria ateu, mas religioso. É deste tipo de contorcionismo que falas ... ou de outro?

4:44 da manhã  
Blogger Horácio said...

Viva MRF,

podemos dizer que Camus seria um místico sem Deus, "Eu não creio em Deus, é verdade. Mas nem por isso sou ateu. Concordaria também com Benjamin Constant, em achar a irreligião algo vulgar e [...] desgastado."( Le monde, 31 de Agosto 1956), diferente ao que me parece a Saramago: por que o Deus que Camus se refere, é o Deus que intervém activamente na história em defesa dos justos e inocentes, que aflige os opressores e consola os oprimidos. A "prova" da inexistência desse Deus (amor e providência) é, para Camus, a mesma que levou os epicuristas que sustentarem a indiferença dos Deuses: a existência do mal e da dor no mundo. Quanto ao ateísmo do Saramago não sei MRF, se o ateísmo dele concerne, apenas, ao juízo final, parece-me um pouco coxo…E quanto a essa relação morte e julgamento, como fundamento do temor parece-me, ela sim, muito cristã. Para mim, todo o ateísmo é contorcionismo intelectual. Recordo-me das palavras de Nietzsche em A Gaia Ciência:

"Não ouviram falar daquele louco que, à luz clara da manhã, acendeu uma lanterna, correu pela praça do mercado e se pôs a gritar incessantemente: «Eu procuro Deus! Eu procuro Deus!». Estando reunidos na praça muitos daqueles que, precisamente, não acreditavam em Deus, o homem provocou grande hilaridade. «Será que se perdeu?» dizia um. «Será que se enganou no caminho, como se fosse uma criança?» perguntava outro. «Ou estará escondido?» «Terá medo de nós?» «Terá embarcado?» «Terá partido para sempre?», assim exclamavam e riam todos ao mesmo tempo. O louco saltou para o meio deles e trespassou-os com o olhar: “Onde está Deus?”, gritou ele, “digo-vos! Matámo-lo – vós e eu! Somos todos os seus assassinos! Mas como foi que fizemos isso? Como fomos capazes de esvaziar o mar? Quem nos deu a esponja com que apagámos o horizonte inteiro? Que fizemos, ao desamarrarmos esta terra do seu sol? Para onde irá agora a terra? Para onde nos levará o seu movimento? Para longe de todos os sóis? Não nos teremos precipitado numa queda sem fim? Uma queda para trás, para o lado, para a frente, para toda a parte? Haverá ainda um em cima e um em baixo? Ou não erraremos através de um nada infinito? Não sentimos já o sopro do vazio? Não está mais frio? Não é sempre noite sem descanso e cada vez mais noite? Não teremos que acender as lanternas desta manhãzinha? Não ouviremos nada além do ruído dos coveiros que enterraram Deus?

Um abraço MRF
Horácio

3:06 da tarde  
Blogger Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

Também era Nietzsche que dizia: "O Homem é só um equívoco de Deus? Ou Deus um equívoco do Homem?" (Crepúsculo dos Ídolos)

Não são os sistemas religiosos as melhores expressões desse contorcionismo intelectual? Ou todas as configurações e interpretações ontológicas e cosmológicas o são, ateísmo incluindo?

9:31 da tarde  
Blogger Horácio said...

MRF, não quis de modo algum polarizar a questão. Para mim o teísmo não seria tanto um exercício de contorcionismo, mas uma pirueta transcendente seguida de um salto mortal. Contudo, nestas cabriolas e nestes contorcionismos, patenteia-se este nosso sentimento re-ligioso. Penso ser este o sentimento de que falavas MRF ao ouvires e ao ouvires-te nas palavras de Saramago. E este é nosso humanismo.

um grande abraço
Horácio

2:27 da tarde  
Blogger Maria do Rosário Sousa Fardilha said...

:) outro abraço, Horácio

11:03 da tarde  

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