domingo, outubro 02, 2005

A facticidade


Deitei suavemente a cabeça sobre a terra humedecida, a mim não me coube nenhum outro porto seguro como herança senão ela. De facto, porque fomos lançados? De facto, que fardo é este que trago? Inebriado pela perpetuidade de mim mesmo, faleço lentamente. De facto! E é nesta gesta senciente que me invento, inventando uma outra estética para transcender o inelutável porvir do tempo.
A terra não é um simples canteiro por onde passeio; tampouco uma montanha que se avista ao longe, como coisa ainda, e que se almeja escalar. Ela não é calculável, nem mensurável por uma outra escala que não seja a da inefabilidade. E porque dizer é medir o mundo com palavras, sem socorro, calo-me… para escutar a voz que emana das profundezas da terra: a voz do silêncio.

Assim Habito
Horácio
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