Efabulações filosóficas I.
Puxo levemente as rédeas, há que conter a urgência de certezas. E se o mar se patentear revolto, então segurar-me-ei ao corpo para evitar naufrágio. É que não sei se sabes, mas é nas muralhas deste excelso e frágil corpo onde ela habita: a rainha de todas as apodícticas cortesãs. Até a deusa de olhos garços, Atena, se por cá ainda andasse, invejar-lhe-ia a força e a destreza com que ilude e abençoa os homens – criando-os e recreando-os com um sentimento de perenidade.
Nunca tive jeito para ser cocheiro, tampouco talento para a arte de bem conduzir ou dirigir seja o que fosse. A recta mestria da razão há muito que a alijei ao mar. Para além disso, a minha parelha de cavalos alados repousa quieta no prado do tempo, neste vestígio último e refúgio do sagrado. E se já não há metafísica que os faça galopar; se apenas ecoa o zurrar dos homens que na arena se gladiam pelo velho ceptro, almejando o trono abandonado, – então mais vale ficar por aqui, parado, ouvindo pacientemente o marulhar das ondas do mar.
De herança coube-me a minha própria indigência: a indelével lembrança de um nome sem rosto, e uma concha. Uma concha, onde trago a água desse rio que o silêncio baptizará com a sua própria voz e que sacia a sede deste meu rei - menino faminto e afoito, cheio de certezas - que ainda não aprendeu a nadar, nem a percontari, neste mar encapelado da vida.
Mas iremos juntos. Juntos ao fundo, e até ao fim. E não há teleologia que nos possa salvar. Quem sabe, se até lá, não aprenderemos a arte de dançar sobre as ondas do mar e se não a-guardaremos a noite, sob o luar da eternidade, a libar em nossas taças douradas o doce néctar de cor púrpura que faz de nós o mais estulto dos animais!
Ah, ostentemos ao alto as nossas conchas e brindemos ao porvir silente do tempo!
Nunca tive jeito para ser cocheiro, tampouco talento para a arte de bem conduzir ou dirigir seja o que fosse. A recta mestria da razão há muito que a alijei ao mar. Para além disso, a minha parelha de cavalos alados repousa quieta no prado do tempo, neste vestígio último e refúgio do sagrado. E se já não há metafísica que os faça galopar; se apenas ecoa o zurrar dos homens que na arena se gladiam pelo velho ceptro, almejando o trono abandonado, – então mais vale ficar por aqui, parado, ouvindo pacientemente o marulhar das ondas do mar.
De herança coube-me a minha própria indigência: a indelével lembrança de um nome sem rosto, e uma concha. Uma concha, onde trago a água desse rio que o silêncio baptizará com a sua própria voz e que sacia a sede deste meu rei - menino faminto e afoito, cheio de certezas - que ainda não aprendeu a nadar, nem a percontari, neste mar encapelado da vida.
Mas iremos juntos. Juntos ao fundo, e até ao fim. E não há teleologia que nos possa salvar. Quem sabe, se até lá, não aprenderemos a arte de dançar sobre as ondas do mar e se não a-guardaremos a noite, sob o luar da eternidade, a libar em nossas taças douradas o doce néctar de cor púrpura que faz de nós o mais estulto dos animais!
Ah, ostentemos ao alto as nossas conchas e brindemos ao porvir silente do tempo!
Assim Habito
Horácio
Horácio
3 Comments:
Olá Horácio,
Obrigado pela tua visita.
Agradeço que voltes novamente, pois vou tentar mostrar-te mais e melhor... veremos.
Um Abraço
Oi Horácio,
Já reparei o teu link no meu blog.
Bom fim-de-semana.
Um Abraço
um Kandando Fernando e Quinta-feira estamos lá juntos com o Hermeto Pascoal. ;-)
Horácio
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